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Textos que fazem Cabeça

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:: quinta-feira, fevereiro 28, 2002 ::

CASA 2 + BIG BROTHER 1
Um país de olho no (falso) buraco da fechadura
Alberto Dines

Voyeurismo [Do fr. voyeur + -ismo.] S. m. Psic. – Excitação sexual ao observar a cópula praticada por outros, ou simplesmente ao ver os órgãos genitais de outrem, independentemente de qualquer atividade própria; mixoscopia. [Aurélio]

Os vilões não são Sílvio Santos e Marluce Dias. A responsabilidade não é só das duas maiores redes de TV – Globo e SBT. Quem está colocando a sociedade telespectadora deste país, de cócoras, olhando pelo buraco da fechadura e babando de prazer, é a mídia como um todo. Sobretudo a impressa, que sempre ostentou o título de "mídia nobre".

Exatamente ela – ou seus veículos mais representativos – em dezembro do ano passado pulou de contentamento com o "sucesso" de Casa dos Artistas-1. A euforia dos principais jornalões (excetuados, obviamente, O Globo e Valor), saudando os índices de audiência do SBT e as sucessivas derrotas da Globo durante oito domingos, foi responsável pela atual voyeurização do país.

A mixoscopia federal tem a assinatura daquele que já pretendeu ser o Quarto Poder. Verdadeiro abaixo-assinado em favor da incultura.

As melhores cabeças, os mais graduados intérpretes da consciência nacional, levantaram os braços aos céus para louvar o castigo que estava sendo imposto à Vênus Platinada. Derrotar o Grande Irmão, qualquer fosse o recurso, era o que importava. Recorde-se o entusiamo da mídia impressa no final de Casa-1 [veja abaixo remissões para matérias deste Observatório e para coleção de textos reproduzidos na rubrica Entre Aspas].

O troco vem agora: o Grande Irmão lançou Big Brother e o SBT, certo de que terá a mesma galera midiática, iniciou no último domingo (17/2) o Casa-2. Com o reforço erótico de Tiazinha, Feiticeira mais as respectivas bundas e mamas devidamente siliconadas [clique em Próximo Texto, no pé da página, para ler comentário sobre a cobertura dada pelos jornais no dia seguinte da guerra de audiência].

O nível de compostura e isenção da mídia foi antecipado pelos cadernos de TV nos jornalões do último domingo: "TVFolha" (Folha de S.Paulo) e "Telejornal" (Estado de S.Paulo) torceram descaradamente para um novo estouro da rede de Sílvio Santos, e a "Revista da TV" (O Globo) omitiu qualquer referência ao programa da rede rival que começava naquele dia. Também o Jornal do Brasil tirou sua lasquinha no arquiinimigo global com a matéria de capa no "Caderno B" e chamada na primeira página sobre Casa-2 ("Câmeras mais indiscretas").

Isso não é jornalismo, é impostura jornalística praticada em grande escala por 90% da mídia dita nacional. Jornalismo de TV deve ser tão sério e isento como jornalismo político, econômico, esportivo e cultural. Não é: está acompanhando as estratégias das respectivas empresas em benefício de seus interesses e jogadas.

Vale tudo para bater a Globo, vale inclusive comprometer a seriedade e a credibilidade da imprensa como instituição a serviço da sociedade. Nenhum grupo empresarial está tendo a hombridade e a decência para assumir a causa do cidadão brasileiro. Em vez de noticiar suscintamente que o Ministério da Justiça não sabe como classificar os reality shows ("Reality shows ainda confundem o governo", "TVFolha", 17/2/02, pág.5), a grande imprensa, a imprensa nobre, deveria garantir apoio ao governo para empurrar essa programação para os horários restritos.

Como este é um ano eleitoral, o governo não quer comprar briga com a mídia eletrônica. Mas a instituição jornalística, ao contrário, tem a responsabilidade e a obrigação de comprar todas as brigas em favor da sociedade brasileira.

A estúpida polarização entre as "realidades" da Globo e do SBT só avilta e degrada nossos padrões morais. Se a mídia quer tomar partido que o faça em favor do cidadão. A grande verdade é que a mídia abdicou de assumir seu papel quando abdicou de dizer, com todas as letras, o seguinte:

** Estes shows são enganosos;

** Estas privacidades são falácias;

** As portas que as protegem são trapaças;

** Os buracos nas fechaduras são simulados;

** O improviso é fictício;

** E a masturbação coletiva só tem um objetivo: ludibriar a realidade.

:: Christopher 3:05 da manhã [+] ::
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:: segunda-feira, fevereiro 25, 2002 ::
Ele é o melhor
Qual é o problema de Felipão, ou da CBF, com a convocação de Romário? Difícil de entender a dificuldade do técnico, ou da entidade, de aceitar o óbvio: Romário continua a ser o maior craque brasileiro em atividade. E isso não tem nada a ver com seu passado. Romário está aí há mais tempo do que muito jogador convocado, mas é dos poucos que continua jogando como se sua aposentadoria ainda estivesse muito longe de acontecer. Seu desempenho permanece estupendo dentro do campo. Foi o artilheiro do Brasileirão do ano passado – feito nada pequeno considerando-se que o Vasco não se classificou às finais. Este ano, repete a performance no Rio-São Paulo.

Mesmo quando não joga bem, Romário sempre dá uma aula de futebol. Seus chutes, ao contrário daqueles que são desferidos pelo ataque do time de Felipão, são invariavelmente precisos. Podem até não entrar, mas sempre vão no gol. Sua capacidade de movimentação em espaços curtos é absolutamente invejável. Seus passes para companheiros soltos na área adversária são perfeitos e, geralmente, quase um gol.

Diante de tudo isso, e principalmente diante do futebol que o time de Felipão tem jogado, a não convocação de Romário é incompreensível. Levando-se em conta que Ronaldinho, de novo no estaleiro, neste momento não é mais do que uma doce esperança para a Copa, ela torna-se um verdadeiro absurdo, completamente inexplicável. Talvez Felipão esteja fazendo docinho, para não admitir que cedeu à pressão popular. Eu também acho que a voz do povo nem sempre tem razão. Graças à ela, e a um empurrãozinho da ditadura, o trombador Dario quase virou titular da seleção de 70. Mas no caso de Romário, Felipão, o povo está certo.

Vai ver o técnico implica com a idade do jogador. Tudo bem, Romário não é nem um garoto, mas é craque. E craque tem capacidade de estender a longevidade de seu futebol além da média. O Brasil tem inclusive um exemplo histórico disso na figura de Nilton Santos, um lateral tão craque quanto Romário e que em 62, no Chile, com os mesmos 36 anos que o jogador do Vasco agora tem, comeu a bola.

Por tudo isso, começo a achar que a ausência de Romário da seleção não passa de mais uma jogada genial de marketing da CBF. Não há outra explicação possível. A entidade e Felipão sabem que não dá para deixá-lo de fora. Estão apenas aguardando a ordem dos marqueteiros para fazer o craque voltar à seleção nos ombros de seus patrocinadores. Nos ombros do povo, e nos meus, ele já está lá.

A seleção sem Romário é um absurdo incompreensível e inexplicável. Mas há outros absurdos no futebol brasileiro que não trazem qualquer desafio à mente. Por exemplo, a desorganização da CBF nessa reta final de preparação para a Copa. A novela do jogo que ia ser contra a Colômbia, depois contra o Chile, depois contra El Salvador e que agora vai ser contra a poderosa Islândia é humilhante mas absolutamente inteligível. Ela traduz de maneira perfeita uma cartolagem que parece mais preocupada hoje em manipular os bastidores para se manter no poder do que preparar um time para se legitimar com resultados dentro de campo.

Hoje, o cartola que mais simboliza esta situação é Edmundo Santos Silva, presidente do Flamengo, que até montou um time para lá de bom este ano, mas não colheu vitórias. Ao contrário. Se meteu num mar de lama, se viu abandonado pela sua diretoria e agora escora-se nos chefes das torcidas organizadas do time para se manter no poder. Por que será? Amor ao futebol? Acho que não. Não há paixão que resista a tanta pancadaria e infelicidade. Deve ser outra razão, a mesma razão que faz com que Ricardo Teixeira e Eurico Miranda briguem desesperadamente para se manter à frente da CBF e do Vasco da Gama.

E o pior é que está ficando cada vez mais claro que a torcida vai aturar a presença desses personagens ainda por um bom tempo. As conclusões da CPI do Senado foram para o fundo do baú e não parece haver ninguém disposto a retirá-las de lá. Certamente não vai ser o governo, que apesar das ameaças das autoridades, não demonstra ter vontade mínima para fazer o que disse que faria no fim do ano passado: mudar a estrutura do esporte. Pobre futebol brasileiro. Ele segue sua sina de não ter salvadores da pátria fora do campo e agora, sem Romário, arrisca-se à chegar na Copa sem um salvador da pátria dentro do campo.

Elena Landau é economista e botafoguense. Escreve às sextas-feiras.


:: Christopher 2:38 da manhã [+] ::
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